O sol raiava,
era um dia bonito e eu decidi ir treinar para dar um desenferrujada. Ainda era
de manhã e poucos campistas já estavam acordados. Eu peguei o que achei
necessário no meu arsenal e também passei no refeitório apenas para comer uma
fruta, só por comer o café da manhã mesmo. Fui para a arena que estava
praticamente vazia. Eu não tinha muito tempo, havia coisas à fazer. Minha vida
era bem assim: ou não tenho absolutamente nada para fazer ou tenho que fazer
tudo que se possa imaginar em um único dia. Escolhi treinar com o arco e a
aljava, eu estava precisando dar uma treinada na mira.
Caminhei até os alvos fixos, peguei meu arco e minha aljava e me posicionei.
Não podia ser tão difícil, além do mais, eu costumava ser razoavelmente boa
quando treinava. Peguei uma flecha, prendi na corda e mirei. Eu estava para
lançar a flecha quando ouvi uma voz masculina dizer:
- Ei! Você!
Me desconcentrei, me virei em direção à voz e sem querer, esqueci que a a
flecha está pronta para ser lançada. Resultado? Quase acertei a fonte da voz.
Era um garoto de cabelos e olhos morenos, eu não o conhecia, mas sabia quem
era: Joshua, filho de Apollo. Ele olhou para mim assustado e falou:
- Calma! Se não queria ajuda, era só dizer, não
precisava ter tentado me matar!
- Ain, meus deuses, me desculpa, eu sou tão
desastrada! Perdão! Aaah, desculpa mesmo. - falei.
- Tudo bem, ainda bem que você é ruim!
Olhei para ele indignada, cruzei os braços e falei:
- Nossa, desculpa então!
Ele riu e se aproximou, dizendo:
- Eu posso te ajudar, se fizer do jeito que estava
fazendo não vai conseguir nunca!
Concordei com a cabeça, meio impaciente e ele riu novamente. Me mandou me
posicionar, foi o que fiz, peguei uma flecha, prendi à corda e estiquei-a. Ele
fez que não com a cabeça e começou a me ajeitar. Primeiro relaxou meus ombros,
abaixou o cotovelo do braço que esticava a corda, segurou minha cintura e
virou-a de modo que ficasse reta quanto às pernas, mudou meus braço de posição
e me olhou, pensativo. Disse:
- Tem alguma coisa faltando...Ah! Sabe a corda?
Encostra ela de leve nos seus lábios!
- DESCULPA? - indaguei.
- É, confie em mim!
Respirei fundo e apoiei a corda no meu lábio inferior. Mirei e lancei a flecha.
No mesmo momento, fechei os olhos, com medo de ver o estrago. Logo, abri-os
devagar e vi que a flecha acertara o alvo, quer dizer, quase isso, acertada a
madeira que segurava o alvo. Sorri e falei:
- Foi...quase?
Ele sorriu, concordou e comentou:
- Mas ainda temos muito trabalho a fazer...Ok,
agora a segunda parte: imaginação. Você tem que imaginar que o alvo é alvo que
você quer acertar mais que tudo no mundo. Mas tem que ser algo realmente
necessário! E use mais a SUA força no arco, não fique dependendo do vento ou
essas outras coisas, entende?
Segui o que ele havia me ensinado, foi meio difícil lembrar de todas as
posições e tudo o mais, mas ele falava algumas partes e disfarçava fingindo que
era tosse. Até que era divertido. Eu estava posicionada, ombros relaxados,
cotovelo abaixado na direção do ombro, cintura reta, braços em posição e corda
nos lábios. Imaginei o rosto feio de uma garota da minha antiga escola que me
odiava no lugar do alvo e estiquei com força a corda. Alvo na mira. Soltei a
corda e a flecha voou para o alvo. Não era o centro, mas era o alvo. Dei um
pulinho e bati palmas, dizendo:
- Eu consegui!
- Conseguiu! Mas ainda tem outras coisas para eu te
ensinar,Queen! - Joshua disse sorrindo.
Ele segurou minha mão e me conduziu até os alvos que se moviam. Autômatos
voadores. Eu me afastei, achando que nunca iria conseguir. Ele me segurou,
impedindo que eu fugisse ou alvo do tipo, falando:
- Você consegue! Mas olha, esta é a terceira parte:
corra por entre os alvos, não olhe um por um se não vai se perder. Olhe o
grupo, mas também não lance a flecha de qualquer jeito no meio do grupo
torcendo para que acerte, quero que você escolha um do grupo mas continue a
prestar atenção nos outros, porque, não se esqueça, durante uma luta, poderá
haver mais de um oponente, se prestar atenção em apenas um, o outro vai te
atingir. É mais fácil do que parece! Vai lá, sei que consegue! E olha, está tudo na
cintura! É só ir virando a cintura e você tem que se posicionar mais rápido,
porque são várias flechas em pouco tempo!
Sabe que consigo, aham, sei, ele se afastou bastante, parecia que estava com
medo de eu sem querer atingi-lo! Cadê a confiança? Bufei e fui para o meio dos
alvos móveis. Respirei fundo, peguei uma das flechas, me preparei para
prendê-la e comecei a correr, enquanto alguns autômatos se aproximavam e outros
se afastavam. Me posicionei rápido, o que eu não esperava, comecei a lançar
flechas para todos os lados sem prestar atenção em nada. Eu estava desesperada,
fazer o quê. Acertei uma flecha de quinze. Quando parei em desistência, Joshua
me olhava com espanto. Sentei no chão e fiquei resmungando:
- Eu sou um desastre, nunca vou conseguir!
- Ah, não é...só precisa treinar... - ele tentou me consolar.
- Eu só presto para ser uma daquelas chatas líderes
de torcida sem nada na cabela além de cabelo legal! Eu sei disso! Eu já fui
uma!
- Espera aí...já foi líder de torcida? Então é flexível e tem ritmo, não é?
- Joshua estava com cara de cientista louco.
- É...por que?
O garoto estava me dando medo, ele correu para algum lugar que eu não sei onde,
me senti abandonada, achei que ele tinha desistido de me ajudar, eu não o
culparia. Mas ele voltou com uma caixa de som pequena, colocou ao meu lado,
ligou em Bass Down Low e disse:
- Faça dançando, como se fosse uma coreografia,
desvie dos autômatos e acerte-os assim.
Olhei para ele receosa, ele fez que sim com a cabeça confiante. Me virei em
direção aos alvos. Peguei uma flecha e segurei-a presa ao arco com a mãos para
baixo. Fui andando em ritmo à música e a cintura balançado de um lado para o
outro. Fiz um movimento com o pés, sacudindo a cabeça e me posicionei sem parar
de andar. *It's like, one, two, three, f*ck it!*
a música tocava. Lancei a primeira flecha, sem olhar o resultado, peguei a
próxima, lancei e fiz a mesma coisa várias vezes, dançando ao mesmo tempo.
Desviei sem querer de um autômato dando um salto.*
I got a question for you, do you like it when I fall?*. Lancei outra
flecha e outra. Fui fazendo até a música acabou em *I
like my beat fast and my bass down low *. Joshua sorria surpreso e
falou:
- Olha para o alvos.
Olhei em volta, poucos alvos voavam, olhei o chão e quase caí para trás, todos
os alvos que eu colocara na minha mira estava no chão com uma flecha cravada em
seu meio. Corri até Joshua e dei-lhe um abraço:
- Eu consegui! Você é demais! Ah, não acredito!
- Você conseguiu!
- ele ria me abraçando. - Bom, acho que já
chega por hoje, não é?
Concordei, desliguei o som, peguei minhas coisas e nós dois saímos da arena
conversando e rindo.
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